Hoje, 2 de agosto de 2009, conforme o roteiro planejado, estamos em Chillán, no Chile, e só agora pintou um tempinho para relatar essa etapa de nossa viagem. Vamos lá... Até Santiago, nossa parada anterior, tivemos uma grande estirada de estradas, logo o que mais tenho a falar é sobre asfalto, gasolina e hotéis. De modo geral as estradas percorridas estão muito boas, sendo que o pior pedaço foi entre Itumbiara (GO) e S. José do Rio Preto(SP), com buracos, caminhões, chuva e tudo mais a que se tem direito. No mais, só estradas boas e pedagiadas. Dormimos sempre nos pontos previstos no roteiro: Motel Taj Mahal em Itumbiara, R$ 53,00 com jantar e café da manhã, ótima opção; Hotel DeVille em Cascavel (PR) (BANCORBRÁS, muito bom); Hotel Alejandro em Paso de Los Libres (AR), $ 240,00 (Pesos Argentinos), muito fraquinho e caro pelo que oferece (creio que há melhores opções na estrada de acesso à cidade) só compensou por estar ao lado do Cassino; Hotel Windsor & Tower em Córdoba (AR), diária BANCORBRÁS e mais US$ 20,00 (+ ou -) e Hotel Urbana Class em Mendoza (AR), pelo mesmo valor, sendo os dois muito bons. A aduana em Foz do Iguaçu, onde temíamos perder muito tempo, surpreendentemente tomou-nos apenas cerca de 15 minutos; daí resolvemos esticar um pouco e almoçar em Posadas, à beira do rio Paraná, no trecho em que separa Argentina do Paraguai. Fazia uma tarde linda de domingo e a Avenida Costanera estava apinhada de gente. Em Córdoba, onde dormimos duas noites, deixamos o camelo na Ford para a revisão de 50.000 kms e passeamos bastante pela cidade: infelizmente, devido a problemas energéticos (pilhas descarregadas), não há fotos, mas Córdoba é uma cidade linda e interessante. Aí ao lado vão algumas fotos da estrada que liga Córdoba a Mendoza: umas montanhas no início, onde nos deparamos com o primeiro gelo (geada, creio eu), umas vilas interessantes e depois uma reta de uns 300 kms cortando o pampa argentino. No final da viagem começam a surgir, cada vez mais imponentes, os Andes com seus picos nevados. Eu, que nasci num vale entre a Serra da Canastra e a Mantiqueira, sempre tive fascinação por montanhas: a nossa Serra do Mar, no RJ e ES, desde criança, os Andes que conhecemos, Geisa e eu, em 1987, as Rochosas em 1994, o Peloponeso em 2006 e os Alpes em 2008. Assim, avistar os picos andinos novamente, mesmo de longe, nos deixa encantados. Mendoza, que já conhecíamos de passagem, é uma cidade muito agradável, com passeios, ou calles peatonais, muito gostosos: mesmo depois de rodarmos o dia inteiro, ainda nos animamos a percorrê-los e encerrar o dia jogando $ 10,00 no Cassino do Hotel Hyat. Há algumas fotos dos passeios e praças de Mendoza aí ao lado. No dia 30 de julho de 2009 saímos de Mendoza em direção a Santiago pelo paso do túnel Cristo Redentor (felizmente aberto: era uma das incertezas de nosso roteiro). A escalada é de uma beleza indescritível, as fotos do site dão uma ligeira idéia do quanto é bonita essa passagem, e de como é forte o comércio por essa via: é impressionante a quantidade de caminhões que por ali passam. Ao contrário da anterior, a aduana dessa vez foi demorada e trabalhosa, muitos formulários e revista do carro. A grande surpresa foi topar com a estação de Portillo logo depois de entrar no Chile: Geisa e eu não sabíamos que chegáramos tão perto da Argentina quando fomos até Portillo em 1987, saindo de Santiago.
Longe de Casa, Há Mais de Uma Semana:
Clique nas Imagens Abaixo Para Mostrar os Objetos Ampliados:
Bariloche e o Caminho dos Sete Lagos
A viagem de Pucon a San Martin de Los Andes, pelo paso Mamuil Malau corre por uma das estradas mais bonitas de nossa viagem até agora, atravessando um parque florestal cujo nome prometo confirmar e informar depois. Trechos de asfalto no início e final da viagem são interpostos por um bom pedaço de rípio, coberto de neve nessa época, que margeia em sua maior parte um belíssimo lago. Só mesmo as fotos, publicadas aí ao lado, podem dar uma ligeira idéia do que se vê. Aduana tranquila e rápida, tanto a chilena quanto a argentina, parecendo que éramos os únicos que passávamos por ali em algumas semanas. O detalhe digno de nota é que a chuva parou depois de alguns poucos quilômetros em terras argentinas. Foi também a minha primeira, e muito boa, experiência em dirigir por um trecho mais longo de rípio com neve, o que pode ser muito prazeroso para aqueles, que como eu, dirigem por prazer. Mas, escuchem bién, todo o cuidado é pouco: o freio, simplesmente, não existe, se você freia, na melhor das hipóteses o carro vai deslizar em linha reta; a tração é algo absolutamente aleatório, às vezes responde, às vezes não responde e você tem que contar com a inércia do movimento até recuperá-la (com as correntes é um pouco melhor e com 4x4, certamente bem melhor, mas minha Ranger é 4x2); as curvas não podem ser abordadas tangencialmente como estamos acostumados, mas sim meio de lado, como fazia o Ayrton Sena quando pilotava na chuva, lembram ??? San Martin de Los Andes, infelizmente não há fotos, é uma cidade muito bonita e ativa, com boas opções de hospedagem e alimentação, além de forte comércio. Para nós foi uma escala de roteiro: chegamos ali no final da tarde, hospedamo-nos, passamos nos supermercado Las Anonimas _ LA, para recompor nossa bolsa de comidas (cositas para comer na estrada) e comprar café; jantamos, dormimos e partimos, na manhã de 6 de agosto de 2009, para o chamado Camiño de los Siete Lagos. O dito Camiño, pelo menos para nós, revelou nada menos do que dez lagos: Lago Lacar,Lago Meliquina, Lago Machónico, Lago El Hermoso, Lago Falkner, Lago Villarino, Lago Escondido, Lago Correntoso, Lago El Espejo e Lago Nahuel Huapi, além do Cerro Chapelco, do Arroyo Partido e da Cascada Vuliñanco. Parada para almoço, já no meio da tarde em Villa La Angostura e chegada a Bariloche ao cair da noite. Fotos ai ao lado. San Carlos de Bariloche, já nossa velha conhecida (1987), foi uma surpresa não muito agradável para mim. A cidade, antes bela e cheia de personalidade, cresceu muito e desordenadamente: a margem do Nahuel Huapi foi tomada por uma avenida de trânsito intenso e caótico. Não me entendam mal, eu acho ótimo que a cidade tenha crescido: significa que mais pessoas têm acesso ao lazer e às belezas dessas paragens; significa também que seus habitantes têm hoje maiores possibilidades de desenvolvimento e crescimento. O que me entristece é que isso tenha ocorrido de maneira caótica, pois, com um bom planejamento, é sempre possível combinar o desenvolvimento com a preservação daquilo que se constitui no maior atrativo desses lugares, o que eu chamo de espírito da cidade. Hospedados, mais uma cabaña, partimos no dia seguinte para o que o Guía Verde da Patagônia Norte, grande aquisição que a Geisa encontrou num posto de gasolina, recomenda como o Circuito Chico: diversos pontos panorâmicos, café em um dos resorts por ali, almoço em um povoado chamado de Colônia Suiza, muito bom embora simples, e retorno à cidade.
Clique nas Imagens Abaixo Para Mostrar os Objetos Ampliados:
Ao sair de Bariloche, resolvemos alterar um pouco nosso roteiro, que vinha se mantendo estritamente dentro do planejado: pularíamos a dormida em Futaleufú, prevista para o dia 8, indo direto a Puyuhuapi, pois Futaleufú, como confirmamos em nossa passagem por lá, parecia não oferecer boas opções de hospedagem; ganharíamos, assim, um dia a mais para curtirmos Ushuaia. Para tanto, resolvemos fazer um caminho mais rápido, deixando de cruzar o parque Los Alerces: decisão difícil, pois dizem ser lindo o parque, mas como já esperávamos muito rípio para esse dia, na Carretera Austral chilena, optamos por fazer pelo asfalto o trecho argentino da viagem (quase todo pelo asfalto), passando por El Bolson, Esquel e Trevelin, em sua maior parte pela Ruta 40, asfaltada nesse pedaço. Mesmo longe da beleza que imaginamos ser o Los Alerces, o caminho pela Ruta 40 argentina, pela Carretera Austral chilena e pela estrada que a liga a Futaleufú cruza belos lagos e cerros nevados: algumas fotos estão publicadas ao lado. A chegada a Puyuhuapi, marcada pelo nosso reencontro com a chuva invernal do sul do Chile, foi decepcionante, pois a maior parte dos estabelecimentos da cidade, não tão bonita como supúnhamos, estavam fechados e entregues às moscas. Depois de muito procurarmos conseguimos nos hospedar no hotel La Casona de Puyuhuapi, razoável, e partimos para tentar jantar: de novo o mesmo drama, tudo fechado. Finalmente, por indicação do dono de um dos mercadinhos da cidade, milagrosamente aberto, fomos bater à porta de uma casa, na qual, ele nos disse, serviam-se refeições. Dito e feito, fomos atendidos por uma família inteira _ pai, mãe e filho _ e comemos um dos melhores peixes que já provei, a la plancha, eu comi um salmão e Geisa uma tal de corvinova. Uma delícia, e com arroz, tá !?!?!? Nosso roteiro previa dois pernoites em Puyuhuapi (isso diz-se puju uapi e significa ilha do puyu, que por sua vez é um peixinho, tipo um lambari, conforme nos explicou um professor local que encontraremos no parágrafo seguinte). Demo-nos conta, no entanto, de que o que de fato interessava ali, as termas de Puyuhuapi e o Parque Nacional Queulat, ficavam a uns 30 km estrada abaixo e decidimos seguir viagem, conhecer as atrações e pernoitar em Coihaique naquele dia. Tiramos uma foto do lago (sempre tem um lago muito lindo nessas cidades por aqui), tomamos café, pagamos em dólares porque desde que voltara ao Chile, em Futaleufú, eu não encontrara nem um banco que me permitisse saque no Visa Plus, estando quase sem Pesos chilenos, e fomos à ruta. Rodamos os 30 km pela Carretera Austral e chegamos ao embarcadero para o lodge das termas, situado em uma ilha. Lá chegados, encontramos algumas pessoas muito simpáticas que também esperavam pelo barco e um aviso na porta da instalação, um complexo portuário no meio da estrada, dizendo que o barco partia todo dia às 10:00 e orientando-nos a procurar alguma pessoa por ali que passaria um rádio para a ilha, caso isso não ocorresse. Era domingo, 9 de agosto: dia dos pais para nós (obrigado, meus filhos, pelos parabéns que vocês me deram mais tarde por telefone) e dia das crianças para os chilenos. Dentre aquelas pessoas muito simpáticas, estavam um professor de Puyuhuapi com sua família que ali foram para comemorar o dia festivo com sua filhinha, havendo antes confirmado o horário de 10:00 hs por telefone com a gerente do lodge, uma ex-aluna sua, que assinara o tal papel lá na porta. Pois, vejam só, deu 10:00, deu 11:00 e nada de barco; bati em todas as portas do complexo e nada da tal alguma pessoa para passar o rádio: não havia viva alma por ali. Nesse meio tempo, um bom papo com o professor esclareceu-nos que ventisquero é um lugar onde a neve se acumula e forma um glaciar, um bloco de gelo eterno, e que uma das atrações do Parque Queulat, o Ventisquero Colgante, peculiarmente, situava-se entre duas montanhas rochosas, de forma que o glaciar ficava pendurado, colgante, lá em cima. Quando deu meio dia desistimos e resolvemos ir atrás do ventisquero. Registre-se nosso protesto pela falta de consideração da administração do tal lodge lá, principalmente com a filha do professor, o qual prometeu puxar as orelhas de sua ex-aluna e obrigá-la a escrever mil vezes que não deveria deixar o barco atrasar. A Carretera Austral, na maior parte do trecho que percorremos, corre pelo Parque Nacional Queulat chileno. Aí ao lado algumas fotos do Ventisquero Colgante que é um dos pontos de interesse do parque com ingresso pago e controlado, e da continuação de nossa jornada até Coiahique, onde chegamos debaixo de chuva ao cair da noite de 9 de agosto. Depois de telefonarmos para as crianças e para o meu querido pai (via Tt), hospedamo-nos no Hotel Los Nires, caindo na conversa do desconto para estrangeiros. É o seguinte: quando você se hospeda eles te prometem um desconto especial para estrangeiros e, no dia seguinte, ao cobrar dizem que, como tem o desconto, sua fatura deve ser em dólares e ao câmbio que eles te impõem; acaba ficando o mesmo que se pagasse em pesos, sem desconto. Ao acordarmos, tcham tcham tcham, vimos que aquela chuva que caía transformara-se em uma bela nevasca, cobrindo tudo (ruas, carros, gente e cães) de branco!!! Uma coisa linda, vejam só aí nas fotos !!! Lindo, né ??? Mas, aí é que as coisas se complicam: cheio de moral com a minha recém adquirida experiência em dirigir na neve (no rípio), lá fui eu rumo à estrada. Foi aí que percebi que a neve no asfalto é outro papo: no rípio a terra absorve a água à medida em que vai derretendo, no asfalto não, forma-se uma camada de gelo por baixo. Imaginem uma estrada coberta de lama, onde alguém derrame um galão de óleo, o gelo formado sobre a pista é dez vezes mais escorregadio !!! No rumo da saída da cidade já me dei conta de que não ia dar para continuar, pois o carro deslizava para todos os lados, só se estabilizando razoavelmente depois que coloquei as correntes (experiência traumática debaixo de neve, é fria!). O jeito foi nos conformarmos em ficar mais um dia em Coiahique, que prevíramos apenas como uma parada para dormir. Um dia perdido!? Talvez... O dia extra em Coiahique, 10 de agosto, acabou tornando-se interessante, pois tomamos contato com o impacto trazido pela neve à vida rotineira de uma cidade: complica bastante a vida das pessoas, dificultando a locomoção e principalmente enlameando ruas e calçadas. Hospedamo-nos por mais um dia, desta vez no Hotel Cabañas Mirador (sem o papo do desconto), e tiramos o dia para descansar e passear um pouco na cidade. O maior impacto sobre nossa viagem foi a decisão que tomamos de não mais seguir até o Lago General Carrera, em razão da neve que caía; lamentavelmente teríamos que deixar para a próxima vez (sim, haverá uma próxima) a visita às Capillas de Mármol e a viagem pelo que dizem ser um dos mais belos trechos da Carretera Austral. Paciência ! Ao lado algumas fotos do visual da janela de nossa nova cabaña e do dia em Coiahique.
Chile, a Carretera Austral
Clique nas Imagens Abaixo Para Mostrar os Objetos Ampliados:
Tomamos, no dia seguinte, a estrada para Balmaceda, onde ingressamos novamente o território argentino pelo paso ali existente. Diferentemente de nossa experiência anterior, a chuva acompanhou-nos pelo território platino durante todo aquele cansativo dia até nossa chegada à cidade de Perito Moreno, onde pernoitaríamos: viagem difícil por estradas de rípio bastante nevadas e escorregadias, absolutamente desertas e onde travamos contato com dois elementos que seriam constantes em nossa viagem pelos próximos dias: a ruta 40 que já percorrêramos, só que agora na versão rípio; e, os guanacos, uma gazelinha com cara de camelo e pescoço de girafa que está presente em toda a Patagônia, em número admirável. Também começamos a ver outros exemplares da fauna patagônica, os flamingos (sempre ao longe) e patos dos mais diversos tipos. Estávamos também iniciando o que prometia ser o trecho mais agreste de nossa viagem: rodamos aproximadamente uns 200 km de rípio até Perito Moreno e estavam previstos mais uns 210 km até Bajo Caracoles (passando pelo Rio Pinturas e as Cuevas de Las Manos Pintadas) e outros 460 km de Bajo Caracoles até El Chaltén, quase tudo rípio e deserto; além das distâncias já grandes por si mesmas, havia a ameaça de falta de gasolina em Bajo Caracoles, que caso se concretizasse nos deixaria em pane seca no meio do deserto. Assim, em Perito Moreno, tratei de comprar um galão para levar gasolina de reserva. Traumatizado com a experiência de colocar as benditas cadenas debaixo de neve, resolvi comprar também uma gata hidráulica, pois as gatas hidráulicas, como todos sabem, são bem melhores que as gatas mecânicas (vocês não acham?) e infinitamente melhores que a porcaria de macaco que a Ford me entregou junto com o meu carro, o qual, na primeira vez em que o utilizei, travou agarrado debaixo do carro, não subindo nem descendo e deixando-me no maior apuro debaixo de neve. Obrigado, Ford! Devidamente equipados e carregando mais gasolina que caminhão da Petrobrás, partimos no dia 12/08/2009 em direção à Cueva de Las Manos Pintadas, onde chegamos por volta de umas 2 da tarde, depois de muito rípio e milhares de guanacos (uma lindeza, os bichinhos!). O Cañadón do Rio Pinturas é de uma beleza impressionante, como se pode ver nas fotos abaixo. As manos pintadas, amostra de arte rupestre com cerca de 10.000 anos, são impressionantes e intrigantes: o que será que passou pela cabeça daquele povo ao sair pintando mãos ali ??? Além daquela cueva, segundo o guia, existem mais uns 80 pontos ao longo do Rio Pinturas onde podem ser encontradas outras amostras do mesmo tipo de arte rupestre. Vejam só como são interessantes, tem até uma mão com 6 dedos. Visitada a Cueva, seguimos em direção a Bajo Caracoles, um vilarejo com meia dúzia de casas onde uma verdadeira holding se instalou: no mesmo estabelecimento funcionam o hotel, o restaurante, o mercado e o posto de gasolina. É isso mesmo, tudo é o O, pois são únicos por ali. Por sorte havia gasolina, nosso maior receio, e o hotel era todo nosso; o dono explicou-nos que o quarto tinha banheiro privativo, mas como estava na baixa temporada ele fechara a água, de forma que teríamos que usar os banheiros compartilhados. Como éramos os únicos hóspedes, acabamos ficando cada um com um banheiro privativo: Geisa com o de damas e eu com o de caballeros. Também poderíamos jantar, desde que fosse milaneza com papas fritas. Olhem, Bajo Caracoles está em uma das regiões mais áridas que já vi, incluindo-se aí o Saara egípcio, e creio que foi uma das noites mais frias que passamos nessa viagem, com um vento gelado assobiando todo o tempo. Pontos positivos: tudo muito limpo, um bom café e a sopa que Geisa tomou com o jantar (eu não gosto de sopa). Dia seguinte, 13/08/2009, tanque cheio, lá fomos nós para o rípio da ruta 40 novamente, rumo a El Chaltén, onde chegamos à tardinha. Os 460 km, quase tudo de rípio, embora configurem-se em uma viagem difícil e exijam atenção constante, rolam por uma região de rara beleza agreste e, às vezes, com uma aparência que chega a ser surreal (fotos abaixo). Durante todo o dia de viagem lembro-me de haver cruzado com apenas dois carros (que somados ao nenhum do dia anterior dá uma média de 1 carro por dia) e absolutamente nenhuma pessoa a mais, à exceção da cidade de Três Lagos, já quase chegando a El Chaltén. No meio do caminho há uma estância, que promete hospedagem e refeições em alguns anúncios ao longo da estrada; lá chegando, secos por um café, só encontramos, no entanto, alguns cavalos pastando tranquilos e meia dúzia de cães para nos receber. No mais, tudo fechado, exceto os banheiros (ufa !!!). Passamos o dia na companhia de guanacos, emas, patos e lindos lagos que se estendem pelo caminho. A chegada a El Chaltén, coberta de neve, fechou com chave de ouro mais um dia lindíssimo que vivemos, com direito ao visual do lago Viedma e da pontinha do glaciar de mesmo nome. El Chaltén é famosa pelos diversos senderos ali existentes, que proporcionam belos passeios entre montanhas e ótimos pontos de escaladas para os praticantes dessa modalidade de esporte. A alta temporada de turismo por ali é o verão, de modo que encontramos apenas metade da cidade em funcionamento: hospedagens, restaurantes e estabelecimentos comerciais mostravam avisos de que só voltariam a abrir no verão. Depois de várias tentativas, e de uma consulta ao escritório de turismo da cidade, conseguimos uma ótima cabaña no Cumbres Nevados, por Ar$ 160,00. Restaurantes, neca!!! O jeito foi partir para o macarrão... O dia que passamos em El Chaltén foi coroado por neve da manhã à noite. Depois de tentarmos chegar a um lugar chamado Bahia Tunnel, que aparentemente nos daria acesso ao Lago Viedma, e encontrarmos no fim da estrada uma cancela fechada com o aviso de que era proibido passar dali, resolvemos arriscar uma caminhada sob neve, como víamos algumas pessoas fazendo. Foi uma experiência interessante, que nos levou até uma bela cascata, o Chorillo Del Salto. À tarde, cadenas colocadas, partimos para mais um passeio drive thru em direção ao Lago Del Desierto, destino que se mostrou inatingível antes do cair da noite e do qual, portanto, desistimos, contentando-nos com os panoramas apreciados ao longo do trecho percorrido da estrada. Abaixo fotos dos passeios: Dia seguinte, mais um amanhecer com neve caindo; partimos para El Calafate, animados com a notícia ouvida no posto de gasolina de que naquela cidade o sol brilhava. Chegando à ensolarada El Calafate, depois de uma viagem tranqüila com alguns poucos kms de neve, decidimos seguir direto para o Parque Nacional Los Glaciares, pois já estávamos escolados nessa história de não saber como amanheceria o tempo no outro dia. Embora já tivéssemos desfrutado do visual do Ventisquero Colgante e, de longe, do glaciar Viedma, avistar o glaciar Perito Moreno foi uma experiência que nos encantou. Essa enorme geleira que se estende por 250 km² e atinge uma altura de 60 m sobre o lago é um espetáculo digno de ser admirado por horas a fio, a exemplo do Grand Canyon ou dos paredões da Chapada dos Veadeiros. Mas, espetáculo adicional é a atividade do glaciar que, de tempos em tempos, racha-se estrondosamente, desprendendo grandes blocos de gelo que despencam sobre o lago; dizem que em alguns casos o estrondo pode ser ouvido em El Calafate, a uns 60 km de distância. El Calafate, por sua vez, é uma das cidades mais simpáticas que visitamos, dispondo de boa estrutura em termos de alimentação e hospedagem, além de ótimo comércio. A existência de um parque à beira do lago, onde diversas aves se instalam, e a adoção de um estilo de construções bonitas e harmoniosas faz da cidade um lugar muito agradável para se estar. Abaixo algumas fotos do glaciar e do Parque que se estende às margens do Lago Argentino, bem como da cidade, também às margens do lago.
La Ruta 40 y los Guanacos
Clique nas Imagens Abaixo Para Mostrar os Objetos Ampliados:
Confesso que foi com certa nostalgia que saímos de El Calafate, no dia 17 de agosto, mais uma vez em direção ao Chile, pois a cidade, apesar do frio, nos oferecera dois dias de sol, algo de que já sentíamos saudades. Mas, como navegar é preciso, zarpamos outra vez pela ruta 40 em direção ao Parque Nacional Del Paine, que pretendíamos visitar no dia seguinte depois de dormir em Puerto Natales. Chegando à fronteira no início da tarde, no entanto, fomos informados pelo oficial da aduana chilena que poderíamos ingressar no parque por ali mesmo e seguir em direção à cidade por dentro do parque, que é enorme. Assim fizemos e fomos desfrutando de panoramas deslumbrantes, sempre à procura das famosas Torres Del Paine e dos Cuernos Del Paine, duas formações rochosas afamadas por sua beleza. Mapa na mão, Geisa encontrou o caminho para diversos pontos de observação de lagos, fauna silvestre, cascatas e pontos de parada dentro do parque, até que encontramos um guardaparque que nos orientou um pouco melhor sobre o local, indicando inclusive um ponto próximo, de onde poderíamos avistar as famosas torres. Corremos para lá (modo de dizer, pois a lama na estrada só nos deixava arrastarmo-nos para lá) entusiasmados, mas só vimos nuvens cerradas... Chegando à portaria do parque, depois de uma breve discussão, optamos por dormir ali mesmo em um hotel situado bem debaixo das torres, de onde tentaríamos avistá-las no dia seguinte e de onde partiríamos para explorar o resto do parque no dia seguinte, pois com ou sem torres o Paine já se revelava um dos pontos altos de nossa viagem, tanto pela beleza panorâmica do lugar como pela riqueza da fauna que ali vive (guanaco, então...). Hospedamo-nos, assim, na Hosteria las Torres, um resort instalado no meio do parque e de onde partem diversos circuitos de caminhadas, tendo o mais longo a duração de nove dias, com pernoites em vários pontos de acampamento ao longo do parque. A diária de US$ 115,00 até que não é tão cara diante do conforto que o las Torres proporciona, mesmo na baixa temporada e em funcionamento apenas parcial; conseguimos também um bom jantar no hotel (não há outra alternativa) a um preço razoável. A nova mudança de planos previa para o dia seguinte a exploração do restante do Paine, e era muito restante, e mais a viagem até Punta Arenas, onde embarcaríamos no ferry para cruzar o Estreito de Magalhães, rumo à Isla de Tierra del Fuego. Mesmo sabendo que seria um dia puxado, resolvemos incluir alguns circuitos curtos de caminhadas, pois não queríamos perder os visuais do parque. O amanhecer chuvoso frustrou nossas esperanças de avistar as torres (mais uma coisa para a próxima vez) e, assim, demos continuidade ao nosso drive thru do dia anterior pelo parque, que, diga-se de passagem, pode ser muito bem explorado do banco do carro, pois é todo cortado pela estrada. Nossa primeira caminhada planejada, por uma sequência de lagos onde há abundância de avifauna, também foi frustrada pela chuva que resolvemos não encarar de fora do carro, até porque o que podíamos avistar dos ditos lagos estava quase deserto de aves (acho que a avifauna também não estava a fim de encarar a chuva). As perspectivas começaram a piorar quando a chuva transformou-se em neve ao chegarmos a um ponto mais elevado da estrada, mas a ausência de fauna foi compensada pela beleza que a neve traz aos lagos e montanhas do lugar. Quando chegamos ao ponto de início de nossa segunda caminhada planejada, até um mirador de onde podiam ser admirados os Cuernos del Paine, a neve já transformara-se novamente em uma garoinha rala e o céu dava sinais de um tempo melhor à frente. Resolvemos então partir para a caminhada de duas horas, conforme o planejado. Como pode ser visto no mapa que está publicado aí em cima (no Primeiro Dia), a caminhada até o Mirador Cuernos começa em uma das margens do Lago Nordenskjöld e tem como preliminar uma bela cascata, o Salto Grande. A caminhada em si é leve, sem grandes subidas e vai beirando o lago passando por paisagens muito bonitas. Depois de uma hora de caminhada (acho que nós, que estamos acostumados a andar sob o sol da Chapada dos Veadeiros, fizemos em uns 45 minutos, quase correndo pra espantar o frio) chegamos ao Mirador, de onde esperam-se ver os cumbres refletidos no lago. Como o tempo prometia abrir, pero no mucho, resolvemos esperar uma meia hora pra ver no que dava. Embora não tenhamos conseguido um visual amplo e irrestrito dos Cuernos, conseguimos vislumbrar um pouco de seu contorno e contentamo-nos com isso, refazendo a trilha de volta ao carro. Mais adiante iniciamos uma nova caminhada até a margem do Lago Grey, ao fundo do qual avista-se uma ponta do glaciar de mesmo nome; vários blocos de gelo espalham-se pela superfície do lago, chegando à praia: até foi possível pegar um pedaço e provar um pouco de gelo com alguns milhares de anos de idade. Já no final da tarde iniciamos nossa jornada rumo a Punta Arenas, uns 300 e poucos kms com breve parada para comer alguma coisa em Puerto Natales, pois havíamos caminhado umas 3 ou 4 horas naquele dia sem nada na barriga além do café da manhã e algumas castanhas de caju que restavam de nosso estoque. Punta Arenas revelou-se uma cidade maior do que esperávamos, com um centro sofisticado e movimentado, onde chegamos já com a noite alta, hospedando-nos no primeiro hotel em que paramos, bem na praça central da cidade. Como estávamos muito cansados e famintos, e como era só para aquela noite, consideramos aceitável o preço de US$ 119,00 pelo apartamento, mesmo sem vê-lo. Quando subimos, surpreendemo-nos ao ver que nos instalaram em uma suíte com ampla sala e luxos do tipo cama com dossel. Somando isso ao ótimo jantar que nos prepararam, embora o restaurante já estivesse fechando, e à atenção que nos foi dispensada (o rapaz da recepção, inclusive, fez a nossa reserva para o barco que nos levaria à ilha de Terra do Fogo no dia seguinte), elegemos por unanimidade o Hotel José Nogueira, em Punta Arenas, como o melhor em toda a nossa viagem. Depois de dormirmos como rei e rainha, na cama com dossel, fizemos mais uma horinha ali pelo hotel, pois o barco só partiria às 15:00 hs, e resolvemos gastar o resto de nosso tempo e um pouco de nosso minguado dinheiro na zona franca de Punta Arenas. Embora esteja instalada apenas em um espaço restrito da cidade, não deixa nada a desejar a outras zonas francas que conhecemos, como Ciudad del Este e Teneriffe. Tem de tudo o que se possa imaginar. Comprinhas feitas, embarcamos, nós e o camelo, no ferry da Austral Broom para cruzarmos o Estreito de Magalhães, uma viagem de 2 a 3 horas naquele ponto do não tão estreito assim. Chegamos ao cair da tarde à cidadezinha de Porvenir, onde teríamos que pernoitar já que dali a Ushuaia ainda faltavam uns 450 km, sendo uma boa parte de rípio. Porvenir, a primeira cidade onde aportamos na Isla de Tierra del Fuego, embora pequena, acolheu-nos muito bem, proporcionando uma hospedagem simples mas confortável, no Hotel Central de propriedade de um senhor muito simpático, e um excelente jantar no Clube Croata. Era tudo o que precisávamos antes de iniciar nossa viagem rumo a Ushuaia. A estrada ali é rípio e lama no lado chileno da ilha, uns 150 km, e asfalto de boa qualidade no lado argentino, mais 300 km; parece até que é birra dos chilenos, pois para se chegar por terra ao lado argentino é obrigatória a passagem pelo Chile. Lá fomos nós: no primeiro trecho da viagem a estrada segue o litoral, proporcionando visuais muito lindos de um lugar chamado Bahia Inutil, depois corta uma região semi deserta, onde existem algumas estâncias aparentemente dedicadas à criação de ovelhas; passado o Paso Fronteriço, chega-se à cidade de San Sebastián (confesso que não vi cidade, só a aduana) onde começa o asfalto; mais uns 90 km de estrada litorânea (Atlântico) e chega-se a Rio Grande, uma boa cidade onde toma-se um bom café no posto YPF. De Rio Grande a Ushuaia são mais uns 200 e poucos km que atravessam, já no final, uma bela serra nevada com direito a magníficas vistas do lago Fagnano. Aqui voltamos a encontrar o nosso velho amigo hielo em la calzada (cuidado !!!) e já quase chegando passamos pelo Cerro Castor e pelo Centro Invernal Tierra Mayor, os quais voltaríamos a visitar com mais calma durante nossa estada em Ushuaya. Finalmente, no entardecer de 20 de agosto, depois de 32 dias de uma belíssima viagem, chegávamos ao fim do mundo, Ushuaia!!! Embora o nosso objetivo maior fosse a viagem em si, Ushuaia era um marco: a cidade assim chamada mais austral do planeta, apesar da polêmica com os chilenos a respeito de Puerto Williams, situada na Isla Navarino do outro lado do canal de Beagle. Nessa viagem à Patagônia, fôramos até onde pretendíamos, a partir daí começaria a volta.
Terras de Magallanes, Chegando ao Fim do Mundo
Clique nas Imagens Abaixo Para Mostrar os Objetos Ampliados:
Ushuaia (us-uaia) é uma cidade completamente diferente do que eu, e creio que a maioria dos que nela pensam, imaginava. Tão diferente que minha primeira sensação ao ali chegar, ao final da tarde e já cansado de mais um dia de estradas, foi de decepção e frustração. Penso que minhas expectativas estavam cerca de 20 anos atrasadas, pois a industrialização ali, pelo que entendi e deduzi, tem sido fortemente incentivada nos últimos anos no intuito de ocupar a região, transformando a cidadezinha bucólica e pintoresca que eu esperava encontrar em um centro que cresceu de maneira avassaladora e, como parece ser regra geral nessas circunstâncias, caótica e desordenada, com um trânsito intenso, mal distribuído por ruas tortuosas e ladeiras íngremes. Para complicar mais ainda, chovia sem parar no dia em que cheguei, deixando alguns lugares na cidade cobertos de lama congelada, pois estava muito frio. Aí ao lado algumas fotos que ilustram a minha primeira impressão, caótica, da cidade. A busca por uma cabaña, que eu imaginava tranquila como em El Calafate ou El Chaltén, acabou se revelando difícil e coroando-se com um incidente no mínimo cômico: procurando por um hotel situado em uma área montanhosa da cidade, cujas placas indicativas vínhamos acompanhando, acabei me vendo em cima de uma poça de lama congelada, de onde não havia jeito de tirar o carro: tudo o que eu tentava só resultava em rodas patinando no gelo. Para cúmulo do azar, ainda me surge um morador do lugar que precisava passar com urgência pela “rua” que eu obstruía, aumentando ainda mais minha consternação. Tentamos de tudo: colocar sal no gelo, colocar terra tirada com uma pá debaixo das rodas, empurrar a Ranger e nada dava certo. Só depois de uma meia hora de briga e de retirar toda a bagagem conseguimos, o meu novo hermano ao volante e eu empurrando, desatolar o carro. Desistimos da cabaña e resolvemos hospedarmo-nos no Apart Hotel El Cardenal, que já havíamos visto ao chegar, mas que não nos agradara muito à primeira vista. Olha, apesar das escadas pelas quais Geisa acabou despencando em uma manhã, acabou sendo uma ótima opção: apartamento confortável com quarto, copa cozinha e banheiro, tudo limpo e muito tranqüilo, além de muito simpática a proprietária; só a internet que era intermitente, mas mesmo assim acabou não comprometendo. Aqui cabe uma explicação sobre essa insistência em cabañas. O que acontece é que saíramos para uma viagem de 45 dias, por terras frias que exigem agasalhos compatíveis, levávamos na caçamba da Ranger praticamente todo o nosso guarda-roupas, alem de outras coisas como, por exemplo, 45 litros de água mineral, já que nossas experiências anteriores na Argentina e Chile haviam nos revelado que por lá não se conseguia água sem gás (o que, aliás, dessa vez não se confirmou: parece que eles já adotaram o uso da dita sem gás). Nossa organização de bagagem compreendia: uma mala enorme, a vermelha, que consistia em um repositório básico de roupas, calçados, casacos e etc; duas malas menores com roupas suficientes para uso por alguns dias, que eram periodicamente renovadas; uma mala, e com o correr dos dias algumas sacolas, com roupas sujas; uma cesta, tipo um engradado de duas dúzias de garrafas de cerveja, e uma geladeira mais ou menos do mesmo tamanho com gêneros alimentícios e complementos de uso constante como luvas, gorros, cahecóis e por aí; uma bolsa com mapas, guias, netbook, GPS, máquinas fotográficas, carregador de pilhas e adaptadores de energia (padrões diferentes na Argentina e Chile, ambos diferentes do brasileiro); e, outra cesta igual àquela com mil coisas mais, tipo guarda-chuvas, capas, as cadenas e por aí a fora... O que acontecia era que em alguns lugares onde ficaríamos mais tempo, a exemplo de Ushuaia, precisávamos descer toda a bagagem para reorganização, e isso podia ser bastante complicado, dependendo da logística de acesso ao alojamento. Vocês não imaginam como pesa a mala vermelha!!! Ao lado fotos que mostram uma parte, pequena parte, da tralha e das conveniências de um abrigo de fácil acesso. Bom, instalados no El Cardenal, toda a bagagem levada dois lances de escadas para cima (essas coisa, o melhor a fazer é resolver logo, já fui chegando e subindo a mala vermelha), banho tomado, partimos para curtir a primeira noite em Ushuaia, ainda com uma chuvinha chata e muito frio rolando. Seguindo a sugestão do guia O Viajante, fomos atrás do restaurante Gustino, onde desfrutamos de um ótimo jantar: o mesmo guia sugere um prato de massa negra recheada de salmão com molho de roquefort que se revelou, para mim, uma maravilha gastronômica (quem for a Ushuaia, não perca!!!) e o profiterólis que também não deixa nada a desejar, e ainda encontramos lá o garçom que o guia menciona, uma simpatia de pessoa que me serviu uma porção extra de pão, pois eu estava faminto. Depois do jantar demos uma caminhada pela San Martin (sempre as San Martins), a principal avenida da cidade. A minha antipatia inicial por Ushuaia começou a se desfazer já nesse passeio, finalizado pela passagem pelo Cassino, onde gastamos os nossos habituais 20 a 30 Reais, pois a avenida, sem o trânsito de final de tarde chuvosa, é muito bonita e agradável, o que é uma característica comum às cidades argentinas. Dia seguinte, 21 de agosto ainda chuvoso, saímos pela manhã em direção ao porto, onde tratamos para a tarde um passeio de barco pelo canal de Beagle. Nossa intenção era seguirmos dali para o Parque Nacional Lapataia, que termina na baía de mesmo nome, Lapataia significa, na língua dos yámana, baía do bosque (como os mais perspicazes já devem ter percebido, aia é baía na língua desses nômades que primeiramente povoaram a Terra do Fogo). Tomamos o caminho do parque, passamos a estação do trem do fim do mundo e tudo ia bem até que o gelo na estrada começou a engrossar e o burraldo aqui lembrou-se que, na ânsia de descarregar e reorganizar a bagagem, havia deixado as cadenas no hotel. Passeio frustrado, pois bem no meio de uma subida o carro perdeu completamente a tração, patinando sobre o gelo liso até que o jeito foi voltar pra trás e retornar à cidade. Para não perdermos completamente a manhã, demos um roleil pela cidade, e fomos até uma operadora, onde tratamos a ida ao parque de van, no dia seguinte, com direito à viagem no trem do fim do mundo. O passeio pelo canal de Beagle, apesar de muito prejudicado pela chuva fria que caía sem parar, acabou se revelando compensador. Conseguimos ver uma colônia de lobos marinhos, animais interessantes, como se vê nas fotos, e muito cheirosos, o que as fotos felizmente não mostram. Além disso visitamos uma ilha no canal, onde se percebem, muito vagamente, sinais da ocupação do pedaço pelos Yámanas e avistamos do barco as ruínas de uma antiga estância que faz parte da história do local. Também tomamos contato com duas das coisas que passariam a ser tristes constantes em nossa viagem a partir dali: a frustração por não encontrarmos o pingüins, ainda não estava na hora deles, e a proliferação de refugos de plástico que permeia toda a Patagônia atlântica (eu acho que o lixo que os ingleses estão mandando para o Brasil agora, era, antes, mandado para a Argentina). Para finalizar o dia: compras no LA, passeio vespertino com direito a sorvete e muito café, e tradicional fezinha no cassino, onde, naquela noite, Geisa zerou o caça-níquel, faturando uma verdadeira fortuna (uns Ar$ 600,00, cerca de R$ 300,00). Aí ao lado estão algumas fotos do passeio pelo canal. Dia seguinte, 22, depois de uma noite muito bem dormida no El Cardenal, partimos para o nosso passeio à baia Lapataia; desta vez na van da operadora de turismo e com direito a passagem no Trem do Fim do Mundo. Olha, até que valeu a pena o fiasco do dia anterior, pois o programa no trem está entre as coisas imperdíveis da Patagônia: trata-se de uma linha férrea construída lá pelas calendas, originalmente destinada ao transporte de presos que exerciam trabalho forçado desbravando a região e extraindo madeira (no passado funcionou em Ushuaia um presídio de alta segurança). Embora viaje-se por alguns poucos kilômetros, o trem para em alguns lugares pintorescos, tornando muito interessante o passeio. Algumas fotos, ao lado, ilustram a diversão (é bom observar que a data da câmera fotográfica estava errada; nesse aspecto, confiem em mim e no que relato, não nas imagens que ilustram o texto). A viagem do trem termina no Parque Nacional Tierra del Fuego, final da Ruta 3, que, em conjunto com outras rodovias de outros países, forma a rodovia Pan Americana, estendo-se dali até o Canadá. O parque é muito bonito, estendendo-se por bosques até às margens da já citada baia Lapataia. Fotos ao lado. Ao retornarmos, para aproveitar o que restava da tarde, fizemos uma visita ao antigo presídio, hoje transformado em museu. Como se vê nas fotos, deu até para experimentar a opressão do lugar. No terceiro e último dia em Ushuaia fomos visitar o Centro Invernal Tierra Mayor e o Cerro Castor, onde passamos o dia a nos divertirmos na neve, com quase tudo a que tínhamos direito: trenó com cães, motonieve, subida da montanha na cadeirinha e um belo almoço na estação de esqui do Cerro Castor, além do belíssimo visual. Só não nos animamos a descer a pista de esqui, não dessa vez. Episódio interessante ocorreu quando uma família pediu-me que fizesse algumas fotos deles, arranhando um portunhol pior do que o meu: ofereci-lhes então fotos em português, o que parece que agradou. Mas, falando em fotos, as minhas, não as da família, estão aí do lado, mostrando uma pequena parte do encanto desse dia.
Ushuaia, a Bahia Onde o Sol se Põe:
Clique nas Imagens Abaixo Para Mostrar os Objetos Ampliados:
Escolha um Link
Welcome Argentina
Welcome Chile
Blog do Cecílio
Blog da Inês
Uno En Cada Lugar
www.1000dias.com
Mochileiros.com
Patagônia.com.br
Uma Família na Patagônia
La Cordillera, Montes, Rios, Lagos e Cumbres Nevados
Continuando nossa viagem, como planejado, chegamos a Santiago no dia 30 de julho. Às 19:30, finalmente conseguimos localizar o Hotel Orly, que Geisa escolhera no Rough Guide do Chile, depois de perambularmos perdidos pela cidade (péssima sinalização, tão confusa que até o GPS se perde), mas valeu a pena, pois o Orly (US$ 100,00 por dia, ap. duplo) tem uma localização privilegiada, na esquina da Pedro de Valdívia com Providencia, com estação do Metro ao lado. É bem próximo do centro de Santiago, em um bairro tranquilo e com bom comércio. Voltar a Santiago, 22 anos depois, como não poderia deixar de ser, nos trouxe muito boas lembranças dos dias que ali passamos com a família da Graça, minha querida irmã. Passar pela Irarrazabal, mesmo não tendo cruzado a Pedro Torres, pela Escola Italiana e pelo Ginásio Italiano, a caminho do Apumanque, nos encheu de saudades e de lembranças.Também nos lembramos muito da calorosa acolhida que recebêramos naquela ocasião da família de Martín, grandes amigos que resolvêramos não procurar dessa vez porque ficaríamos em Santiago por muito pouco tempo. Passeamos pela cidade, comércio e monumentos, todo o dia 31, saindo no dia 1 de agosto pela manhã em direção a Chillán. Aí embaixo estão algumas fotos de Santiago. A viagem pela Ruta 5 chilena, a Ruta Pan-Americana que cruza as três Américas pela costa oeste, foi muito tranquila e bela até a cidade de Chillán; é uma rodovia digna de qualquer país de primeiro mundo: o único incidente de que me lembro foi uma parada pelos carabineros, para me advertir que eu não poderia transitar a mais de 120 km/h (o radar deles havia registrado que eu estava a 130 (na hora, por sorte, eu estava devagar). O oficial foi muito educado e apenas me advertiu, não me aplicando a multa cabível. Antes eu já fora parado e multado em Ar$ 140,00 (uns 70 e poucos Reais) na Argentina, por haver me esquecido de acender os faróis ao sair de um posto de gasolina (nas estradas argentinas, e creio que também nas chilenas, é obrigatório transitar sempre com o farol aceso, mesmo de dia). Cabe aqui um comentário sobre o comportamento dos policiais, tanto da Argentina como do Chile, muito sérios e educados: em nenhum momento me senti desrespeitado, intimidado ou achacado. Mesmo o oficial que me multou na Argentina, tratou-me com muita simpatia, interessando-se pela minha viagem e travando comigo uma amistosa conversa, mas a multa, com notificação e recibo devidamente lavrados, não teve perdão. De Chillán às Termas de Chillán, o point, são mais 80 km por uma estrada secundária em boas condições (asfalto bom sem acostamentos) até um pouco antes da entrada do complexo Vale Hermoso (estação de esqui e termas) onde começa o rípio, coberto de neve e lama naquele dia. Chegamos no final da tarde de sábado e, salvo engano, o último sábado de férias escolares, e resolvemos arriscar a subida, mesmo sem colocar as cadenas que eu havia comprado (por Ar$ 200,00 velhas e enferrujadas, um roubo!!!) na subida para o passo do Cristo Redentor por haver lido que o porte era obrigatório (ninguém me cobrou nada). Reparei que todos os que desciam, e era muita gente, ou vinham em carro 4x4 ou usavam correntes. Subi no maior medão, com todo cuidado, e tudo deu certo: demos uma olhada na estação de esqui (drive thru) e descemos de novo para procurar hospedagem. Descobrimos então as cabañas, um achado !!! Por Ch$ 40.000,00 (+ ou - R$ 110,00) hospedamo-nos em um pequeno chalé, nas Cabañas Rucahue, totalmente equipado, inclusive cozinha. Terminamos o dia com um bom macarrão preparado a quatro mãos, à nossa moda. No domingo, com as cadenas devidamente colocadas (gorjeta para um rapaz na beira da estrada que fica lá esperando por isso), subimos novamente à estação de esqui, onde nos esbaldamos nas motonieves, brincamos e caminhamos no bosque nevado e tomamos banho nas termas vulcânicas de Chillán, águas termais bem mais quentes que as de Caldas Novas, no meio da neve. Atendimento sempre ótimo, os chilenos, como já sabíamos são um povo muito simpático e atencioso. O Vale Hermoso, todo o complexo, é um lugar muito bonito quando coberto de neve, como o vimos. Tem uma boa estrutura para esquiar, inclusive principiantes, as termas propriamente ditas e muita área verde ocupada por um bosque de araucárias. Ainda nesse dia, melhor dizendo nessa noite, gastamos os já habituais 20 a 30 Reais no Cassino do Resort, aparentemente aberto exclusivamente pra nós, pois na noite de domingo já não havia mais ninguém no pedaço. Na manhã de segunda feira, 3 de agosto, partimos em direção a Pucón, e como a viagem era curta e por boa estrada (novamente a Pan-Americana), resolvemos dar uma paradinha na cidade de Chillán para um cafezinho. É uma cidade grande, do porte de Anápolis eu diria, mas nos pareceu, no princípio, muito vazia e paradona, até que depois de rodarmos uma meia hora vimos o estacionamento de um shopping, onde resolvemos parar para o ansiado café. Topamos, então, com o centro comercial da cidade: algumas ruas cheias de lojas e gente em plena atividade na manhã de segunda feira. Demos uma espiada no comércio, interessados principalmente em roupas para o frio e neve (alugáramos calças nas termas por Ch$ 3.400,00 cada; os casacos que trouxéramos foram suficientes), além dos regalos para as crianças. São artigos muito caros, pra serem usados apenas nessa ocasião, e decidimos continuar no esquema de aluguel quando visitássemos locais de neve mais intensa. Tomamos nosso cafezinho e seguimos viagem. Mal nos afastamos um pouco de Chillán, encontramos aquela que viria a ser nossa companheira constante pelos próximos dois dias: a chuva invernal do sul do Chile, uma garoinha gelada e persistente. Ao final da tarde chegamos a Pucón, uma cidadezinha às margens do lago Villarica e aos pés do vulcão de mesmo nome, rodeada de fontes termais que lhe fazem a fama como balneário muito procurado. Tratamos de encontrar as Cabañas Rucalemu, localizadas em uma das saídas da cidade e indicadas pela Nancy da Rucahue que para lá telefonara reservando-me um chalé. Uma vez instalados, toda a tralha baixada para a cabana, um pouco menor e mais barata que a anterior (Ch$ 30.000,00 dessa vez), retornamos à cidade para cenar, pois passáramos o dia na base das besteiras: alfajores pra Geisa, uma empanada pra mim, café e castanhas de caju para os dois. Exploramos melhor, então, a principal avenida da cidade, a Bernardo OHiggins (no Chile é como as nossas Getúlio Vargas, assim com as San Martin na Argentina), entregue às moscas àquela hora e debaixo da chuva: como já disse, tudo o que for lido nos próximos parágrafos é debaixo de chuva. Depois de algumas tentativas frustradas, conseguimos um bom restaurante, onde comemos lomos com arroz e fritas, quase à brasileira. Voltamos para casa, onde nos esperava a lareira ou estufa à lenha, uma das diversões nas cabañas: você passa a noite inteira botando lenha no fogo pra esquentar até que dorme e de manhãzinha vai lá acende a dita cuja e volta pra debaixo do cobertor até esquentar de novo o ambiente, muito divertido. Vendo que as condições climáticas nada haviam mudado quando despertamos, iniciamos nossa jornada da terça feira dia 4. Eu precisava comprar um adaptador de tomadas, pois esquecer adaptadores em hotéis estava se tornando um carma para mim: já esquecera um em Paso de Los Libres (lembram dos problemas energéticos que melaram as chances de fotos de Córdoba ?) e outro em Santiago. Na noite anterior avistáramos um supermercado bem próximo às Cabañas Rucalemu e para lá nos dirigimos. Na mosca: o prédio, enorme, abrigava um supermercado e um homecenter, onde além do adaptador ainda encontrei um casaco para trabalho resistente, impermeável e capaz de suportar o frio de uma nevasca, a preço bem razoável (Ch$ 19.000,00, uns 70 Reais); a Geisa já comprara em Santiago um casaco adequado. Feito isso partimos para o roteiro turístico. Nosso plano previa para Pucón a escalada do vulcão Villarica, um dos passeios recomendados para o local; como isso estava inviabilizado pelo mal tempo, resolvemos fazê-lo na base do drive thru, subir até onde desse de carro. Lá fomos nós ladeira acima: asfalto no início, rípio no meio e rípio coberto de neve mais no alto. Apesar da névoa intensa, o visual é muito lindo e subimos até quase a estação de esqui, quase porque, justamente quando avistamo-la, a chuvinha transformou-se em nevezinha e eu, sem cadenas, fui assolado por diversos medos: medo de ficar atolado; medo de levar bronca por estar sem correntes, pois um dos dois carros que estavam parados à frente da estação era dos carabineros, e medo do frio, pois neve, embora linda, é um negócio desconhecido para nós e certamente perigoso para quem não sabe como conviver com ela. Numa manobra radical (quase um cavalo de pau), virei 180 graus e tornamos a descer até um ponto onde a estrada se bifurcava indicando para o outro caminho umas tais de Cuevas Volcânicas, para as quais nos dirigimos dessa vez. Embora a nevezinha tivesse voltado a ser garoa, o caminho de cinza vulcânica, um tipo de areia fina e negra, continuava bastante nevado e eu já estava meio temeroso, quando vi uma van parada, com um grupo tirando fotos;.parei também e descemos Geisa e eu para fotografar o lugar. Logo que descemos, de uma das janelas da van que já estava saindo, uma moça fez uma piadinha em português sobre a minha barba estar branca de tanta neve, indicando que havia brasileiros à bordo da van. O fato de eles haverem continuado animou-me a seguir em frente, e assim o fiz até que chegamos ao local indicado como sendo as Cuevas. Ainda sem entender direito do que se tratava, dirigimo-nos para o galpão ali construído em busca de um café. Lá chegados topamos com três casais de brasileiros ali reunidos por acaso: dois deles, um de Curitiba e outro do Rio, embora não estivessem viajando juntos, compunham o grupo da van que se formara para a excursão às Cuevas; o outro casal, Bruno e Márcia, também do Rio, estava viajando de carro e retornando de Bariloche, nosso próximo destino. Pedido o café, engrenamos o papo com o pessoal, os brasileiros e o encarregado pelo local, o Fernando, e ficamos sabendo que as Cuevas Volcanicas eram um túnel aberto na rocha por um jato de lava passando em uma das erupções do Villarica, que ocorrem periodicamente, ele ainda está ativo. Soubemos também que o grupo estava ali para uma visita a esse túnel, guiada pelo Fernando. Integramo-nos ao grupo (pela módica taxa de Ch$ 15.000,00 per capita) e partimos rumo ao centro da terra, uma experiência interessante e bela, precedida de uma palestra de cunho geológico sobre o funcionamento dos vulcões em geral e do Villarica em particular. Poderosos e perigosos esses fenômenos incandescentes! O contato com o pessoal nas cuevas foi-nos útil também como indicação para a escolha de uma terma a visitar: era essencial que dispusesse de instalações cobertas (sempre a chuva) e como dispúnhamos de tempo para visitar apenas uma, queríamos que fosse uma das melhores. Seguindo a indicação do Fernando, saímos das cuevas direto para as termas de Menetúe, distantes uns 30 km de Pucón. O caminho por si só já é muito bonito, tornando a viagem até lá um verdadeiro passeio. As termas em si também são muito agradáveis, dispondo de boas instalações: banheiros e vestiários bem equipados, lockers, toalhas, piscinas cobertas (2) muito quentes, bem mais que as de Caldas Novas, a exemplo das de Chillán, cadeiras e espreguiçadeiras à vontade e etc. Lá vimos, pelas placas dos carros estacionados, visitantes chilenos (claro), argentinos e peruanos, além de nós, brasileiros. Também ali há um ótimo restaurante, onde comi uma truta ao vapor deliciosa com batatas salteadas com um tipo de cheiro verde que eles têm; Geisa pediu uma truta grelhada, a la plancha, com arroz (o arroz é comum no Chile, já notáramos na nossa outra visita em 1987, e está se tornando mais comum na Argentina, onde era uma raridade há vinte anos). Banhados e alimentados, tomamos o rumo de casa (a cabaña), passando antes por uma das praias do lago Villarica: embora a garoa tivesse dado um estiada de uns quinze minutos, o vento era tão forte e frio que só conseguimos ficar na praia o tempo para uma meia dúzia de 3 ou 4 fotos. Depois disso: fazer as malas para a volta à Argentina no dia seguinte, brincar de lareira e dormir. Fotos de Pucón estão publicadas abaixo (Tá bom, dos arredores de Pucón...).
Clique nas Imagens Abaixo Para Mostrar os Objetos Ampliados: